7 de fev. de 2024

Sobre o Medo

Eu tinha a intenção de postar sobre outras coisas (como o hábito da escrita ou sobre o meu registro de leitura), mas recentemente assisti um vídeo no Youtube que me fez pensar sobre o medo.

É muito comum eu refletir sobre as minhas inseguranças, e às vezes fico imaginando que algumas questões só acontecem comigo (como o medo de dirigir, por exemplo). 

Não é uma realidade, aparentemente.

Tirei minha carteira em outubro do ano passado, e foram dias tempestuosos, sem confiança nenhuma, e de quase desistência. Passei no teste, e baseado na minha performance, eu sei que passei bem. Peguei a parte mais inclinada do trajeto, e uma rua antes de encerrar o teste tinha um cruzamento muito movimentado. Três paradas numa rua íngreme, com um controle perfeito da embreagem. Foi demais. A expressão do examinador deixava evidente que estava orgulhoso.

Ainda assim, depois de chorar um pouco (porque eu não acreditava que fosse conseguir), ter meu documento em mãos e o consentimento do governo para dirigir... eu não faço... porque tenho medo. 

Isso é frustrante. E nesses momentos, me pego pensando qual é o meu problema. 

Por que minha cabeça me trai tanto?

Mesmo que seja embaraçoso admitir, eu tenho o medo quase o tempo todo. Principalmente um medo bizarro de fazer as coisas para as quais fui treinada para fazer (isso faz sentido?). 

Em meados de 2010 trabalhei na farmácia central de um hospital. Como os outros jovens da minha idade (17/18/19) comecei na base da pirâmide, apenas entregando pacotinhos de medicamentos nas unidades. Era uma atividade simples e mecânica, sem muitas decisões, riscos ou dificuldades. O máximo que acontecia era alguma das auxiliares de enfermagem pedirem algum tipo de ajuda, mas sempre coisas fáceis e que não demonstrassem risco para ninguém. Até que eu fui promovida. Não era mais eu entregando os medicamentos, era eu os separando. Até aí tudo bem. Até que eu fui designada para a farmácia do centro cirúrgico.

Lembro perfeitamente da primeira parada cardíaca de um paciente.

Médicos e auxiliares correndo de um lado para o outro pegando equipamentos e gritando por medicamentos, o desespero quase criando uma névoa no ambiente, e com razão, já que uma vida estava em risco. Deu tudo certo. Mas passei dias com aquela sensação pesando meu coração. Se eu não tivesse entregado tudo no tempo certo, se eu tivesse atrasado um pouco que fosse, eu poderia ter matado alguém indiretamente. Penso a mesma coisa sobre dirigir. Tenho medo de machucar alguém, mesmo sabendo que sou uma pessoa responsável. E que fui treinada para dirigir bem.

Esse vídeo que assisti é um experimento de uma mulher de trinta e dois anos (minha idade) desafiando dois dos seus maiores medos: dirigir sozinha e passar a noite em uma cabana isolada. 

Eu senti uma espécie de chamado. 

Passar uma noite (ou final de semana) em uma cabana longe da cidade é uma das coisas que mais quero fazer na vida. E tem sido um tópico recorrente nas minhas conversas com ele, que graciosamente me lembra dos vários filmes de terror que começam desse jeito. 

Ainda assim, eu quero muito fazer isso.

Eu tenho uma certa pira com a neve '-'

Não tenho certeza de quando isso vai acontecer, até porque tem toda uma questão logística e capitalista por trás disso, mas eu definitivamente quero ter essa experiência. Quero vivenciar a paz e tranquilidade que só um lugar como esse tem a oferecer. E dirigir até lá, porque né, dois problemas resolvidos com uma questão. 

A parte positiva é que mesmo que tenha uma parte de tráfego urbano, provavelmente uma boa parte do caminho seria em estradas remotas de terra (hey, plot de filme de terror), e eu nunca fiz isso antes, o que seria incrível. Pensar em enfrentar esse medo traz uma sensação contraditória de pavor e euforia, e imagino como deve ser viver de fato essa situação.

Um adendo que gostaria de fazer, dado a razão pela qual criei esse blog, é que praticamente todo (senão todo) livro sobre criatividade tem um tópico dedicado ao medo, porque é da natureza humana se proteger, é assim desde o início dos tempos. Ficar seguro e confortável é... seguro... e confortável. MAS, como já dizia O Caminho do Artista: "A verdadeira vida é vivida quando pequenas mudanças ocorrem."

E é isso aí.

Liste seus medos, e trabalhe para superá-los.

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